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Apelo ao povo ou argumentum ad populum

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O apelo ao povo (argumentum ad populum, em latim) é uma falácia de relevância que ocorre de duas formas.

A primeira acontece quando alguém tenta convencer você a adotar uma ideia simplesmente porque um grande número de pessoas pensa assim. Um exemplo simples dessa falácia é o seguinte:

A maioria das pessoas acredita na existência de Deus. Portanto, é muito provável que ele exista.

A segunda ocorre quando alguém apela a ideias, costumes, ações de um grupo considerado referência ou superior para te convencer que também deveria pensar assim.

Os Estados Unidos é um país desenvolvido. Como lá existe pena de morte, o Brasil também deveria dotá-la.

Esse tipo de apelo ao povo divide o mundo em bons e maus, desenvolvidos e não desenvolvidos, inteligentes e não inteligentes e tenta convencer você dizendo que deve fazer parte do grupo certo. Caso discorde, passará a fazer parte daqueles que pensam como os malvados, não civilizados ou subdesenvolvidos.

O apelo ao povo é uma falácia porque viola uma das regras básicas de um bom argumento: a relevância. O fato de a maioria concordar ou não com uma ideia não a torna mais ou menos verdadeira, ou seja, é irrelevante como argumento.

Ainda assim, o apelo ao povo é muito utilizado, pois é difícil defender uma ideia que contraria o que todos pensam ou o que um grupo visto como superior pensa. Imagine que você vive no século XVIII, numa sociedade extremamente religiosa, e resolve defender o ateísmo. Dificilmente irá conseguir falar.

O apelo ao povo, portanto, tenta convencer jogando com um desejo comum de se sentir parte de um grupo ou calando opiniões impopulares.

Porém, há um tipo de apelo ao povo que pode ser considerado aceitável. Ele ocorre quando o povo em questão é uma comunidade de especialistas no assunto do debate.

Imagine que está conversando com um amigo e descobre que ele acredita que a Terra é plana. Para iniciar o debate, você diz

A Terra não é plana, pois é consenso na comunidade científica que ela é esférica.

Você usou um argumento de autoridade, mas que não deixa de ser um apelo ao povo, nesse caso um povo qualificado no assunto. Embora esse não seja um argumento conclusivo, afinal a ciência já esteve errada no passado, não pode ser considerado uma falácia. Cabe ao seu amigo apresentar razões para mostrar porque os cientistas estão enganados.

Referência

Douglas Walton. Lógica Informal: manual de argumentação crítica. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2012.